Empresários de MG admitem compra ilegal de vacinas contra a covid-19

Os empresários Rômulo e Robson Lessa admitiram à Polícia Federal que compraram vacinas contra a covid-19. Donos da empresa Saritur, em Minas Gerais, eles são apontados como organizadores de uma imunização irregular que aconteceu em uma garagem de ônibus da família.

O depoimento foi dado à PF na última segunda-feira (29). Na terça-feira (30), autoridades encontraram as supostas vacinas que teriam sido usadas para vacinar o grupo. Elas estavam com Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, que dizia ser enfermeira.

No entanto, não há registro da suposta enfermeira no Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais. Cláudia é, na verdade, cuidadora de idosos. Segundo a Polícia Federal, a mulher tem passagem por furto.

Segundo informações do G1, a Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas foi presa na noite da última terça-feira.

Em entrevista à TV Globo, a polícia trabalha com três hipóteses: ela e o filho, Igor Torres Freitas, teriam vendido e aplicado vacinas importadas ilegalmente, desviadas do Ministério da Saúde. Há ainda a suspeita de que os imunizantes aplicados sejam falsificados, ou seja, fraude. Por fim, ventilam a possibilidade de que houve uma importação irregular ou ilegal. Agora, a PF investiga a origem das vacinas aplicadas nos empresários.

Rômulo e Robson Lessa assumiram que compraram as vacinas de Cláudia e do filho. Eles teriam cobrado R$ 600 pela aplicação das duas doses do suposto imunizante.

O caso foi revelado pela revista Piauí. A partir da denúncia, a Polícia Federal deflagrou a operação.

Entenda o caso do grupo que se vacinou escondido em MG

Quem faz parte do grupo e o que dizem?

O grupo é composto por 50 pessoas, entre políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, além de seus familiares.

Uma parte da aplicação do imunizante ocorreu em Belo Horizonte, em uma garagem de uma empresa do grupo Saritur, improvisada como posto de vacinação. Já outra parte teria sido imunizada em uma instalação pertencente a uma mineradora.

Empresários

Segundo pessoas que se vacinaram na ocasião, os organizadores foram os irmãos Rômulo e Robson Lessa, empresários e ex-sócios da viação Saritur. A família Lessa é conhecida no no ramo de transportes em Minas Gerais e está à frente de um dos maiores conglomerados do setor.

A Saritur (Santa Rita Transporte Urbano e Rodoviário) foi fundada em 1977 e possui uma frota estimada de 1,2 mil ônibus, além de empregar cerca de 6 mil funcionários, entre servidores diretos e indiretos.

Além de dono da Saritur, Rubens Lessa preside a Fetram (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais), e o Conselho Regional Minas Gerais do Sest Senat. Influente em Brasília, Rubens possui acesso direto ao governo federal.

Políticos

Entre os vacinados, segundo a revista, também está Clésio Andrade, ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte. À Piauí, ele disse que tomaria a vacina pelo SUS na próxima semana, mas foi convidado a se juntar ao grupo e não teve de pagar.

Após a publicação da revista, o ex-senador, por meio de sua assessoria, mudou a versão. Ele negou que tenha dado entrevista à Piauí e que tenha sido vacinado.

“Eu ainda não tomei a vacina e defendo as regras de vacinação do Ministério da Saúde. Aliás, repito que eu preferia que os idosos, como eu, dessem a vez aos mais jovens, que são obrigados a sair de casa para trabalhar”, informou.

Ainda de acordo com a reportagem, o deputado estadual Alencar da Silveira Jr. (PDT-MG) também foi vacinado. Questionado, ele negou. “Não estou sabendo, não. Até gostaria, mas estou com coronavírus, nem posso”, afirmou à Piauí.

Dias depois, na quinta-feira (25), por meio da sua assessoria de imprensa, Silveira Jr., lembrou que é um dos signatários da CPI na Assembleia Legislativa de Minas Gerais que apura supostos casos de fura-fila da vacinação entre servidores da Secretaria Estadual de Saúde – o caso derrubou o secretário Carlos Eduardo Amaral, que foi imunizado.

“Não vacinei e não tenho conhecimento dessas vacinações citadas na reportagem da Piauí. Acho que tem que ser apurado”, disse o deputado via assessoria.

Aglomeração na garagem improvisada

A garagem fica no fim da rua Cláudio Martins, 100, no bairro Alto Caiçaras, na capital mineira. Uma testemunha afirmou que filmou o episódio, juntamente a outras pessoas, e teria identificado no pátio da garagem cerca de 25 veículos.

Nelas, é possível ver uma mulher de jaleco branco retirar do porta-malas o que parecer ser uma vacina e aplicar nos motoristas. Alguns descem do carro para receber sua dose. Outros são vacinados dentro do próprio carro. Uma outra pessoa anota nomes em uma ficha, como se estivesse confirmando cada vacinação dada.

Ainda segundo a testemunha, condutores e passageiros estavam sendo vacinados por uma mulher de jaleco branco. A pessoa que fez a denúncia disse que encaminharia o vídeo à Secretaria Municipal de Saúde no dia seguinte. A Prefeitura de Belo Horizonte não retornou ao jornal Folha de São Paulo para confirmar o recebimento.

Enfermeira se atrasou após imunizar outra parte do grupo

A reportagem da Piauí diz ainda que a enfermeira que aplicou as doses no grupo na garagem teria chegado atrasada por estar atendendo ao restante das pessoas em outro local: na Belgo Mineira, mineradora hoje pertencente à ArcellorMittal Aços.

A ArcelorMittal disse, em nota, que nunca comprou nenhuma vacina para o combate da Covid-19, e que sua empresa de gestão de saúde, a Abertta Saúde, atua como posto avançado de vacinação do SUS em Belo Horizonte e Contagem.

“A ArcelorMittal desconhece qualquer atuação de seus profissionais em atos correlacionados à vacinação fora dos protocolos do Ministério da Saúde e do Programa Nacional de Imunização – PNI”, afirmou. A Belgo Mineira, ainda segundo a ArcelorMittal, não existe mais.

Lei permite que entidades comprem vacina, mas obriga doação ao SUS

Atualmente, a legislação brasileira obriga que 100% das vacinas contra Covid eventualmente contratadas por empresas ou outras instituições privadas sejam doadas ao SUS.

Aprovada pelo Congresso Nacional no fim de fevereiro, a lei federal 14.125/2021 determina que a doação deve ser feita enquanto todos os grupos prioritários não forem vacinados — cerca de 77 milhões de pessoas. A lei foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia 10 de março.

Fonte: Yahoo Notícias

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