Bolsonaro diz que agiu por “paranoia” ao tentar abrir tornozeleira com ferro de solda

Segundo o documento, Bolsonaro atribuiu o comportamento à interação inadequada de medicamentos — especificamente Pregabalina e Sertralina
A audiência de custódia realizada neste domingo (23) trouxe um novo elemento ao caso que levou Jair Bolsonaro à prisão preventiva: o próprio ex-presidente afirmou à Justiça que sofreu um episódio de “paranoia” na madrugada em que tentou abrir sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda.
O relato consta na ata oficial do procedimento, conduzido por videoconferência pela juíza auxiliar Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, do gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Segundo o documento, Bolsonaro atribuiu o comportamento à interação inadequada de medicamentos — especificamente Pregabalina e Sertralina — prescritos por médicos distintos que não teriam se comunicado entre si. Ele afirmou que, devido ao efeito combinado dos remédios, passou a acreditar que o dispositivo continha uma “escuta”.
“O depoente afirmou que estava com ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa”, diz o registro oficial.
Uso de ferro de solda
O ex-presidente relatou que pegou um ferro de soldar que já possuía em casa e mexeu na tornozeleira por volta da meia-noite. Ele disse que interrompeu a ação após “cair na razão” e, então, comunicou os agentes responsáveis pela custódia.
Bolsonaro afirmou que estava acompanhado da filha adolescente, do irmão e de um assessor, mas que todos dormiam e ninguém percebeu a movimentação. Também declarou não recordar episódios semelhantes no passado e que começou a tomar um dos medicamentos apenas quatro dias antes.
Bolsonaro nega intenção de fuga
Questionado pelos advogados, Bolsonaro negou qualquer plano de fuga e alegou que não houve rompimento da cinta do equipamento — algo que ainda será analisado pela perícia.
Sobre a vigília convocada por Flávio Bolsonaro, um dos motivos citados por Moraes ao converter a prisão domiciliar em preventiva, o ex-presidente afirmou que o local do ato ficava a cerca de 700 metros de sua casa, o que impediria “qualquer tumulto que facilitasse fuga”.
Prisão homologada
A audiência registrou ainda que Bolsonaro não relatou abusos por parte dos policiais responsáveis pela prisão. A PGR acompanhou a sessão e classificou a custódia como regular nesse aspecto.
Com base nos relatos e no cumprimento das formalidades legais, a juíza auxiliar homologou a prisão preventiva, deixando a análise do mérito para o ministro Alexandre de Moraes.
O relato de “paranoia” e “alucinação” abre uma nova dimensão para o caso, já que a tentativa de violação da tornozeleira foi citada pelo STF como indício de possível fuga e descumprimento das medidas cautelares. A Primeira Turma do Supremo ainda vai decidir, nos próximos dias, se mantém ou não a prisão preventiva.
Bolsonaro segue detido na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.
Fonte: Band



