Procurado por morte de delegado já foi preso e absolvido pela Justiça do RJ

Wendel Silvestre foi capturado em 2015 por tráfico no mesmo local onde Fábio Monteiro morreu. Desembargadora criticou absolvição anterior e o condenou, em 2017, mas ele não foi mais achado.

Apontado como um dos suspeitos pela morte do delegado Fábio Monteiro, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, na sexta-feira (12), Wendel Luís Silvestre já foi preso e, 40 dias depois, libertado pela Justiça. Por um ano e dois meses, ignorou convocações do Judiciário para comparecer a audiências e, mesmo assim, foi absolvido.

“Conceder liberdade provisória a Wendel Luis Silvestre impondo-lhe o cumprimento das medidas cautelares previstas no incisos I e IV do artigo 319 do Código de Processo Penal, devendo com isso comparecer bimestralmente ao juízo para comunicar e justificar suas atividades”, escreveu o juiz Marcos Peixoto, da 37ª Vara Criminal do Rio.

Em julho de 2017, a desembargadora Gizelda Leitão Teixeira decidiu reformar a decisão do juiz Marcos Peixoto que o absolvera, e condenou Wendel por tráfico de drogas. No despacho, definiu a decisão anterior do magistrado como “benevolente”.

No processo que tramita no Tribunal de Justiça do RJ é possível se observar o vai-e-vem de decisões judiciais que beneficiaram o rapaz:

  • 19/07/2015– Wendel Silvestre é preso por dois policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. De acordo com o auto de prisão em flagrante, o rapaz estava com 267 sacolés de crack, na Rua Bráulio Cordeiro.
  • 29/07/2015– Wendel, ainda preso, comparece a uma audiência com o juiz Marcos Peixoto que manteve a sua prisão. Na ocasião, ele não soube informar um endereço residencial de sua mãe em que poderia ser encontrado.
  • 31/08/2015– Houve uma nova audiência em que o juiz Marcos Peixoto liberou Wendell e determinou que ele comparecesse a cada dois meses à Justiça.
  • 25/09/2015– Wendel não comparece à audiência marcada no Tribunal de Justiça e permanece respondendo o processo em liberdade.
  • 27/10/2016– Ocorreram outras três audiências em que Wendel não apareceu. Apesar disto, Wendel Silvestre é absolvido.
  • 13/06/2017– O Ministério Público estadual recorre da decisão e a desembargadora Gizelda condena Wendel que tem mandados de prisão expedidos contra ele.

“Tendo o réu, revel, não comparecido às audiências, a acusação não indagou aos policiais e ao lesado ouvidos naqueles atos, em momento algum, se reconheciam o réu como autor do delito em apuração, limitando-se a formular perguntas em torno das circunstâncias do fato, porém em instante algum se referindo à autoria ou, mais em específico, à pessoa do réu – como se existisse aqui um pressuposto, que o denunciado seja o autor do ilícito pelo simples fato de ter sido preso em flagrante”, informou o juiz Marcos Peixoto em sua decisão.

A desembargadora Gizelda Leitão Teixeira entendeu diferente a situação: “Não se pode perder de vista ainda que o apelado, após receber benevolente benefício do magistrado (liberdade provisória), empreendeu fuga, demonstrando seu desapreço pela Justiça”.

No sábado (13), a desembargadora compareceu ao sepultamento do delegado Fábio Monteiro.

Preso no local onde delegado foi morto

Nas ruas, Wendel Silvestre voltou, segundo policiais, ao tráfico de drogas da favela do Jacarezinho. Na sexta-feira (12), o delegado Fábio Monteiro foi vítima de vários tiros no mesmo lugar onde Wendel foi preso há quase dois anos e meio, a Rua Braulio Cordeiro. De acordo com investigações da Delegacia de Homicídios (DH), Wendel fazia parte do grupo que abordou o delegado.

Policiais da DH na rua Bráulio Cordeiro, no Jacaré, onde o carro do delegado Fábio Monteiro foi encontrado (Foto: Divulgação)

A morte do delegado

Por volta de meio-dia de sexta-feira (12), o delegado Fábio Monteiro assumiu o volante do carro de uma amiga, um Cobalt preto. Saiu da Cidade da Polícia, localizada diante da favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, onde estava de plantão, para almoçar. Seguiu cerca de 300 metros pela Avenida Dom Helder Câmara e entrou à direita, na localidade conhecida como Buraco do Lacerda. Já na Rua Bráulio Cordeiro, próximo ao número 50, tentou fazer um pequeno trecho da rua na contramão da via. Ali, foi abordado por homens armados com pistolas.

De acordo com depoimentos de testemunhas à DH, Fábio Monteiro chegou a tentar despistar os criminosos: “Sou motorista”, disse o delegado, com o vidro abaixado.

Acelerou o veículo por cerca de dez metros e já na Rua Camboriú, próximo ao número 61, quase em frente a um lava-jato, foi parado. Saiu do carro e mandou que a amiga corresse dali. Segundo um investigador, neste momento, o delegado Fábio Monteiro foi identificado como policial. Levou um primeiro tiro na perna. Depois foi executado com vários tiros: pelo menos cinco tiros nas costas e um na cabeça.

Desde a morte do delegado, na sexta-feira, a Polícia Civil realiza operações na favela do Jacarezinho. Policiais militares chegaram a denunciar o helicóptero da polícia de realizar disparos próximos à base da UPP. Além de Wendel, a polícia já identificou outros dois suspeitos dos cinco que participaram do crime.

Delegado Fábio Monteiro era instrutor da Polícia Civil (Foto: Reproduções/ Redes Sociais)

Fonte: G1

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