Lava Jato prende Paulo Vieira de Souza, suposto operador do PSDB

Nova fase da operação cumpriu 12 mandados de busca, incluindo em endereços ligados ao ex-senador tucano Aloysio Nunes Ferreira.
A fase de número 60 da Lava Jato prendeu Paulo Vieira de Souza, suspeito de ser um operador de propinas do PSDB. E também cumpriu mandados em endereços ligados ao ex-senador tucano Aloysio Nunes Ferreira.
Policiais Federais de Curitiba vieram até São Paulo para cumprir 12 mandados de busca e apreensão. Tinham ordem para prender Paulo Vieira de Souza, ex-diretor de engenharia da Dersa, a estatal que cuida das obras viárias do governo paulista.
Em 2018, Paulo Vieira foi preso duas vezes em outro processo, o que apura desvio de dinheiro das desapropriações do Rodoanel, e foi solto por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
Enquanto lidava com as acusações na Justiça de São Paulo, Paulo Vieira de Souza era alvo da investigação conduzida em sigilo pela Lava Jato em Curitiba. Foram as delações do empresário e operador financeiro Adir Assad e de ex-executivos da Odebrecht que revelaram, em detalhes, como funcionava o esquema.
Segundo os investigadores, Paulo Vieira recebia dinheiro do setor de propinas da Odebrecht para entregar a executivos da Petrobras e financiar campanhas políticas. De acordo com as provas, Paulo Vieira de Souza disponibilizou, em 2010, cerca de R$ 100 milhões.
“Adir Assad revelou que Paulo Preto possuía cerca de R$ 100 a R$ 110 milhões no Brasil em espécie. E esse dinheiro tava condicionado em dois endereços: estava condicionado no endereço numa residência em São Paulo e também num apartamento que, segundo relevado por Adir Assad, era o local onde Paulo Preto tinha um bunker pra guardar as propinas”, disse o procurador da República Roberson Pozzobon.
Os delatores contam que Paulo Vieira tinha que tomar cuidado com a umidade.
“Como era um quarto úmido, algumas vezes a gente via Paulo Preto colocando as notas de reais para tomar sol, porque senão elas emboloravam. Isso foi revelado por auxiliares do Adir Assad”.
Para deflagrar a operação, a Lava Jato contou com informações de quatro países, entre eles, a Suíça.
Em 2018, o Ministério Público da Suíça descobriu que Paulo Vieira tinha R$ 130 milhões no exterior.
O comunicado destacava quatro transações financeiras feitas entre a offshore panamenha Groupe Nantes e um banco suíço, cujo beneficiário era o próprio Paulo Vieira de Souza.
Na época, as três contas onde estava depositado o dinheiro foram encerradas e os valores reunidos em uma única conta, em janeiro de 2017 e a fortuna que estava em nome de Paulo Vieira, cerca de US$ 34 milhões, foi então transferida para um banco no paraíso fiscal nas Bahamas.
Os procuradores suíços encaminharam os extratos aos colegas brasileiros.
Numa dessas contas, segundo a Lava Jato, foi emitido um cartão de crédito que deveria ser entregue em 2007 a Aloysio Nunes.
“Foi solicitada a emissão de um cartão de crédito para entregar aos cuidados do senhor Aloysio Nunes Ferreira Filho, ex-ministro das relação exteriores do governo Temer, ex-senador da República, num hotel em Barcelona na Espanha”, disse o procurador da República.
Aloysio é amigo de Paulo Vieira e teria indicado o engenheiro para trabalhar na Dersa. O ex-ministro, que nesta terça-feira (19) pediu demissão do cargo de presidente da Agência de Investimentos do governo paulista, nega irregularidades.
No fim da tarde, Paulo Vieira fez exame de corpo delito no IML, em São Paulo, antes de ser levado para a Superintendência da Polícia Federal na capital paulista. Ele deve ser transferido para Curitiba no fim da semana.
O que dizem os citados
A defesa de Paulo Vieira de Souza disse que não vai comentar o caso, porque não teve acesso a qualquer documentação.
A nova gestão da Dersa informou que apoia qualquer investigação e que vai colaborar para elucidar quaisquer dúvidas.
O PSDB de São Paulo declarou que não é parte no processo, que não mantém vínculo com Paulo Vieira, que jamais recebeu qualquer contrapartida de empresas e que todos os recursos recebidos foram doados de maneira legal e declarados à Justiça Eleitoral.
A Odebrecht afirmou que tem colaborado com as autoridades e que segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente.
Fonte: G1