Fogo avança no Pantanal, encobre Campo Grande e ameaça araras-azuis

Uma densa nuvem de fumaça ocupa o céu de Campo Grande desde a última terça-feira (5) à noite. Segundo o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima do Estado), o fenômeno foi ocasionado por ventos de até 40 km/h que levaram partículas residuais dos incêndios que ocorrem no Pantanal, especificamente na região do Morro do Azeite, em Miranda, que fica a 300 km do município.

“Os ventos não estavam tão fortes, mas o suficiente para trazerem, sim, a fumaça da região oeste do estado até nós”, afirma a meteorologista Francine Rodrigues, do Cemtec.

Até a manhã desta quarta-feira (6), o fogo consumiu 1.560 km², superando o tamanho da maior cidade brasileira, São Paulo, que tem 1.521 km². Chuvas intensas nesta madrugada na região abrandaram o fogo, mas há focos ativos e as chamas continuam a avançar.

“Houve melhora e os aviões estão sobrevoando as áreas, mas o fogo não findou. Contamos, também, com o reforço dos bombeiros de Brasília que deve chegar hoje [6] à noite e vai entrar em ação apenas amanhã”, avalia Fernando Carminati, do Corpo de Bombeiros Militar do estado.

A Polícia Militar Ambiental diz, em nota, ter aplicado R$ 4,65 milhões em multas por incêndios a 28 pessoas, entre físicas e jurídicas no estado, de fevereiro até outubro deste ano. A cifra teve aumento de 86% em comparação com o mesmo período em 2018.

Nenhuma das punições emitidas no mês de outubro, no entanto, foi aplicada nos municípios de Corumbá, Miranda, Aquidauana ou Bonito, onde se concentraram mais de 1.300 focos de incêndio desde o último dia 27.

O monitoramento feito por policiais ambientais conta com drones e fiscalização para flagrar quem atear fogo em mata seca. “Quando há indicação de que foi intencional, aplicamos as autuações. Quando não conseguimos encontrar culpados, enviamos solicitação para o Ministério Público para que ele peça perícia, que é feita pela Polícia Civil”, afirma o coronel Ednilson Queiroz.

Segundo o coronel Queiroz, nas cidades mais afetadas há muita dificuldade de identificar autores. “Além das pessoas do campo, temos catadores de iscas, pescadores e inúmeros fatores flutuantes que podem influenciar nas queimadas.”

Araras ameaçadas

“É como se a gente estivesse em um tsunami. Pura destruição”, descreve Neiva Guedes, coordenadora do Instituto Arara Azul, espécie vulnerável e em risco de extinção. Segundo ela, os efeitos das queimadas podem perdurar por até um ano no ambiente.

Como a arara-azul é uma espécie de dieta restrita a basicamente dois tipos de frutos (acuri e bocaiúva), a destruição das palmeiras tornam os alimentos escassos.

“Agora, estamos em época reprodutiva e os efeitos perduram com o passar do tempo. Vai demorar para as palmeiras se recuperarem e surgirem cachos de frutos no ponto que as araras alcançam”, diz Guedes.

Em termos imediatos, as queimadas causaram perdas diretas ou indiretas a 49% dos ninhos monitorados na estação natural de reprodução do Instituto. Além da perda de ninhos, ovos e filhotes queimados, parte dos animais morreram devido ao calor das labaredas, por desidratação ou asfixia causada pela fumaça. “Certamente, o fogo causou impacto no sucesso reprodutivo dessa estação”, diz Neiva.

Para Felipe Dias, agrônomo e diretor-executivo do Instituto SOS Pantanal, as queimadas significam a “perda ainda imensurável” de animais de todas as categorias e de plantas que alimentam a fauna que restar. Para ele, apesar de as queimadas serem recorrentes no Pantanal em época de estiagem, nesse ano, a proporção das chamas surpreendeu a todos que trabalham na planície.

“Alguns animais fogem, mas de que adianta se o alimento, como certas plantas, se perderam? Há também perda enorme de espécies cuja característica é serem mais lentas e que estão na base alimentar de outras, como insetos, répteis e anfíbios”, diz.

Fonte: Canabrava FM

Com informações: Agencia Brasil

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