Bolsonaro quis mudar bula da cloroquina, diz Mandetta

Em entrevista à Globonews na noite da última quarta-feira (20), o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, revelou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pretendia alterar a bula de medicamentos a base de cloroquina por meio de um decreto presidencial como forma de recomendar a substância no combate ao coronavírus.

Mandetta diz que soube da intenção de Bolsonaro durante uma reunião com o presidente e outros ministros quando ainda chefiava a pasta da Saúde. Mandetta, assim como seu sucessor, Nelson Teich, deixou o governo diante da pressão do presidente pelo uso indiscriminado da cloroquina no tratamento de covid-19, contrariando estudos que apontam pouca ou nenhuma eficácia do medicamento, além de graves efeitos colaterais.

“No final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presidencial…”, contou Mandetta à Globonews. “E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para covid-19.”

O ex-ministro disse que chefes de outras pastas do governo, integrantes da Advocacia Geral da União (AGU) e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, estavam no encontro. “O próprio presidente da Anvisa se assustou com aquele caminho, disse que não poderia concordar. Eu simplesmente disse que aquilo não era uma coisa séria e que eu não iria continuar naquilo dali, que o palco daquela discussão tem que ser no Conselho Federal de Medicina”, conta Mandetta.

“Não adianta fazer um debate de uma pessoa que seja especialista na área que for, com um presidente da República que não é médico. A disparidade de armas, já que a frase está tão em voga, é muito difícil.”

A resistência de Mandetta e de Teich acabou não surtindo efeito após a saída dos dois ministros. Na quarta-feira (20), o ministro interino, general Eduardo Pazuello, emitiu um novo protocolo liberando o uso de cloroquina até para casos leves de covid-19 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), atendendo ao pedido de Bolsonaro.

Até então, o protocolo oficial do Ministério da Saúde previa o uso da medicação apenas para casos graves. Na terça-feira (19), o presidente chegou a fazer piada com a mudança: “Você não é obrigado a tomar cloroquina. Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”.

O novo protocolo mantém a exigência de que o paciente autorize o uso da medicação através da assinatura de um termo de consentimento. Além disso, o governo admite no documento que o termo de consentimento deve ressaltar que “não existe garantia de resultados positivos” e que a substância pode causar efeitos colaterais, podendo levar à morte.

Fonte: Yahoo Notícias

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