Queiroga diz a empresários que caso Prevent é página virada e critica Coronavac

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse a empresários que são páginas viradas a promoção de tratamentos sem eficácia para Covid-19, bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e as suspeitas sobre a operadora Prevent Senior levantadas pela CPI da Covid no Senado.

Em almoço fora da agenda com representantes das operadoras de planos de saúde, Queiroga também criticou a vacina chinesa Coronavac, distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan, laboratório ligado ao governo paulista.

O encontro ocorreu na quarta-feira (13), no restaurante Fasano, em São Paulo, no momento em que Queiroga enfrenta crises no cargo e faz agrados ao presidente para não ser demitido.

Ao citar a Prevent Senior, Queiroga disse que as suspeitas de promoção de tratamento ineficaz devem ser investigadas, mas ponderou que hospitais de excelência recorreram a medicamentos como a hidroxicloroquina no começo da pandemia por falta de dados sobre a Covid-19.

O ministro pediu aos empresários apoio a Bolsonaro e negou ter intenção de disputar as eleições de 2022. Procurada, a Saúde não se manifestou sobre as falas de Queiroga no almoço.

Ele afirmou que o uso dos fármacos do “kit Covid” é tema do passado e que o governo prioriza a campanha de vacinação.

O uso de medicamentos ineficazes, porém, ainda é pilar do discurso de Bolsonaro sobre a pandemia. O presidente disse nesta quinta-feira (14) que voltará a recorrer ao tratamento precoce se for reinfectado e “ponto final”.

No almoço, o ministro elogiou o fato de a Prevent Senior ter ocupado uma lacuna no mercado ao disponibilizar planos mais baratos para idosos.

A operadora entrou na mira da CPI da Covid após receber dossiê assinado por médicos que apontavam supostas falhas graves no atendimento. Segundo o documento, os hospitais da rede eram usados como laboratórios para estudos com o “kit Covid”. De acordo com o relato, pacientes e parentes não eram informados sobre esse tipo de tratamento. A Prevent Senior nega irregularidades.

Segundo empresários que acompanharam o encontro, Queiroga disse que há ainda dúvida sobre tratamentos para a Covid-19, quando minimizou a promoção do”kit Covid”. Na sequência, ele afirmou que é preciso revisar dados sobre outros produtos e abriu discussão sobre a Coronavac.

O ministro teria reclamado sobre pedidos do Butantan para manter a vacina na campanha de 2022. Ele teria dito ainda que o produto é menos eficaz do que outros modelos, como o da Pfizer, e não pode ser usado como dose de reforço.

Em fala à imprensa no último dia 8, Queiroga disse que pode considerar o uso da Coronavac no próximo ano caso o Instituto Butantan obtenha o registro definitivo da vacina. O imunizante tem apenas o aval de uso emergencial da Anvisa.

Questionado pelos empresários se irá se candidatar às eleições em 2022, Queiroga negou, mas não convenceu. Os representantes das empresas especulam que o ministro disputará uma vaga no Senado pela Paraíba ou Rio de Janeiro.

O ministro voltou a defender que os planos de saúde façam ressarcimento ao SUS por doses de vacinas para Covid-19 aplicadas em quem tem convênio.

Empresários responderam que o valor da inclusão do imunizante no rol de cobertura acabaria pesando nos reajustes das mensalidades.

Participaram do almoço representantes da Amil, Hapvida, SulAmérica, Qualicorp, Bradesco Seguros, Rede D’Or, UnitedHealth Group, Hospital Sírio-Libanês, além da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) e Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde).

O encontro não está marcado na agenda do ministro. Mais cedo, ele havia participado do “Fórum Internacional de Lideranças da Saúde”. Queiroga também não divulgou imagens do almoço nas redes sociais.

O ministro estava acompanhado no almoço de Daniel Meirelles, um de seus assessores, e do secretário de Atenção Especializada à Saúde, Sérgio Okane.

Servidor de carreira da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Meirelles está cotado para uma das quatro vagas abertas no órgão. Ele organizou o encontro com os representantes do mercado privado de saúde.

No almoço, Queiroga disse aos presentes que fará indicações técnicas à agência que regula e fiscaliza os planos de saúde e negou disputas com o Congresso e partidos do centrão pelos cargos.

Ele afirmou que Meirelles seria um bom nome para a ANS, mas que o assessor prefere permanecer no ministério. Com apenas um diretor titular, a agência está esvaziada em plena pandemia.

Não havia pauta combinada para o almoço, que serviu para estreitar relações e teve clima ameno, segundo pessoas presentes.

Queiroga fez discurso sobre ações de sua gestão e do governo Bolsonaro. Em mais de um momento, o ministro disse que a prioridade é a campanha de vacinação.

O Brasil alcançou 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas, mas Queiroga vive o pior momento no cargo. Isolado entre gestores do SUS, o ministro ainda é pressionado pelo presidente e apoiadores que fazem campanha contrária à vacinação.

O ministro e representantes do setor chegaram a ensaiar uma conversa meses atrás, mas o encontro foi cancelado, pois estava aberta a discussão sobre o reajuste das mensalidades dos planos.

Entrou no assunto do almoço de quarta-feira (13) a discussão sobre avaliações de novas tecnologias e procedimentos no SUS e no rol de cobertura dos planos. O ministro teria garantido que as análises serão técnicas e transparentes.

Queiroga e os representantes das empresas teriam concordado que não há como excluir mecanismos de definição de preços de medicamentos ou a garantia de patente das inovações. A leitura dos empresários é que o Ministério da Economia prefere esvaziar as regras para precificar estes produtos.

A Saúde não se manifestou sobre o almoço fora da agenda nem informou quem pagou a conta de Queiroga e seus auxiliares.

Chefe da Saúde desde março, Queiroga é mais ativo em pautas das operadoras de saúde do que os antecessores no cargo. Há disputas com a ANS em alguns temas. A agência é contra inserir a vacina no rol de cobertura dos planos.

Queiroga ainda patrocinou a publicação de uma medida provisória para reduzir de 18 meses para até 6 meses o tempo de análise de incorporação de tecnologias ao rol de cobertura dos planos, também sem o aval da agência. As operadoras consideram o prazo curto. O mesmo texto também determina a cobertura das tecnologias já incorporadas ao SUS.

Escolhido para assumir a Saúde no auge da crise sanitária e substituir o general Eduardo Pazuello, Queiroga foi apresentado como técnico. Ele abriu a gestão defendendo máscara e vacina, mas passou a concentrar esforços nas pautas sensíveis ao bolsonarismo.

Para agradar ao presidente, o médico autorizou estudos sobre desobrigar o uso das máscaras, afastou da Saúde nomes vetados por apoiadores do governo e usou argumentos frágeis ao tentar impedir a vacinação de adolescentes sem comorbidade.

Queiroga também fez gestos obscenos e mostrou o dedo do meio em setembro, nos Estados Unidos, a manifestantes que protestavam contra Bolsonaro.

Fonte: Yahoo Notícias

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